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quinta-feira, 12 de maio de 2011

LEMBRANÇAS DE MORRER 

“...Eu deixo a vida como deixa o tédio 

Do deserto, o poento caminheiro, 

- Como as horas de um longo pesadelo 

Que se desfaz ao dobre de um sineiro; 

Como o desterro de minh’alma errante, 

Onde fogo insensato a consumia: 

Só levo uma saudade - é desses tempos 

Que amorosa ilusão embelecia. 

Só levo uma saudade - é dessas sombras 

Que eu sentia velar nas noites minhas. 

De ti, ó minha mãe, pobre coitada, 

Que por minha tristeza te definhas! 

Se uma lágrima as pálpebras me inunda, 

Se um suspiro nos seios treme ainda, 

É pela virgem que sonhei. que nunca 

Aos lábios me encostou a face linda! 

Só tu à mocidade sonhadora 

Do pálido poeta deste flores. 

Se viveu, foi por ti! e de esperança 

De na vida gozar de teus amores. 

Beijarei a verdade santa e nua, 

Verei cristalizar-se o sonho amigo. 

Ó minha virgem dos errantes sonhos, 

Filha do céu, eu vou amar contigo! 

Descansem o meu leito solitário 

Na floresta dos homens esquecida, 

À sombra de uma cruz, e escrevam nela: 

Foi poeta - sonhou - e amou na vida...”

Álvares de Azevedo

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